quinta-feira, 5 de novembro de 2015

It's me Mario








Era uma vez uma menina, que via sempre os pais brigarem. Até que um dia viu o pai ir embora e nunca mais voltar. A mãe fumava o dia inteiro e fazia outras coisas das quais a pequena menina não entendia. Um dia a mãe lhe contou que seu pai tinha ido embora, porque tinha uma outra família e que precisava retornar para ela. A menina não chorou, para ela a mãe era o sufiente, apesar de sempre viver cambaleando pela casa. A menina cresce e se torna uma bonita moça, começa a sair com as amigas sem ter hora para voltar. Logo de mocinha se intensifica na vida noturna. Até um amigo charme-lhe para trabalhar onde a mesma se divertia. Ela começa a ganhar um dinheiro e passar a ser a "hostel" das festas. Assim, a mocinha passa a ganhar o seu dinheiro e cada vez mais sua liberdade. A mãe não barra, diz que a criou para o mundo. O mundo acaba acolhendo a mocinha que agora é uma pequena mulher. É convidada a se agenciar como modelo fotográfica e passa a aumentar sua renda com fotos, eventos e showrooms. Chega em casa todos os dia muito tarde, ou no amanhecer do dia, seu dinheiro é gasto com roupas, cigarros e antidepressivos. Em uma dessas chegadas em casa, ela encontra sua mãe desmaiada no chão da sala. Pela primeira vez, ela chora como uma menina, por mais insuportável que sua mãe era, ela era única pessoa que ela tinha na vida para ocupar seu coração. Os paqueras e flertes não supriam o que a mãe lhe causava. Assim, levou a mãe para o pronto-socorro, onde lhe contaram que sua mãe precisava ficar enternada um tempo pois poderia ter uma dependência com os remédios/drogas. Voltou para a casa sozinha e sozinha ficou durante quatro meses, vendo sua mãe as vezes de sábado, no hospital psiquiatrico no qual ela estava. Mas um dia a estrela dela brilhou e um senhor muito elegante, que estava analizando as roupas nas modelos no showroom, lhe ofereceu um trabalho em Las Vegas. Ela trabalharia em um showroom na loja que ele tinha lá e não pagaria a passagem e nem hospedagem, moraria com outras modelos e ganharia em dólar. Não conseguiu colocar nenhum obstáculo e assim partiu com a intenção de ganhar mais dinheiro para colocar a mãe em um clínica em melhores condições. Logo no primeiro dia, foram buscar ela no aerporto e a levaram para o escritório para assinar o contrato. No escritório o mesmo senhor apareceu, contando-lhe que estava como principal empresário em um filme adulto e gostaria de contratá-la como atriz principal. No começo ela fez que não entendeu o fato de ser "filme adulto" mas logo quando percebeu, berrou que a inganaram que iria voltar imediatamente para o Brasil, mas o senhor mostrou-lhe o cachê que receberia, explicou que o filme seria veiculado só nos países da Ásia e parte ocidental da Europa, não seria comerciado nem para os Estados Unidos e nem para a America Latina. Quando olhou o valor do cachê, se viu com aquele dinheiro, era um valor que pagaria anos de clínica para sua mãe e para sua própria sobrevivência, poderia conhecer o mundo todo, o mundo o qual a mãe lhe criou para pertencer a moça. Diante de todos os pensamentos, pediu um dia para pensar. Assim foi para as ruas tão desejadas newyorkinas. "Aqui é o meu lugar, o mundo é o meu lugar, eu quero tudo isso!" Dizia ela para si mesma. E com essa decisão refletiu "transo com tantos caras que as vezes não pagam nem uma cerveja para mim" "não estou fazendo nada demais, apenas transando com mais um, na frente de uma câmera" "lembro quando o meu primeiro namorado filmou a gente transando e depois mostrou o vídeo quase para escola inteira". E com o último pensamento, voltou o mais rápido possível para o escritório, para não se arrepender e assinou. No seu primeiro dia de filmagem, estava com o coração acelerado e pela primeira vez rezou pedindo proteção para um deus no qual nunca tinha até agora acreditado. Depois de uns cinco minutos no set de flmagem, ela já estava em casa e se forçou a esquecer a câmera, lembrava das noites e dos caras que já passaram pela sua vida. Quando terminou, sentiu um alívio com misto de orgulho, sabia que tinha feito um bom trabalho. Durante o sexo, era um dos momentos dos quais ela sentia-se vivendo sem pensar, vivendo pelo prazer e pelo extase da vida. Voltou para o Brasil, colocou a mãe em uma das melhores clínicas de reabilitação onde descobriu que sua mãe não era dependente quimica e sim alcoolatra. No mesmo mês, foi para a Europa, no primeiro pais logo conheceu uma Norueguesa em um hostel. Se apaixonou, amou, se apegou e viveu um sentimento que a tirou de toda sua certeza levando-a ser tão leve como uma folha que cai. Realizou o sonho de viajar junto com sua enamorada. Foi para muitos paises e muitos lugares, viveu intensamente como não se tivesse o amanhã. Um dia sua primeira paixão revela que é casada e que está sumida de casa, porque precisava de um tempo para pensar, porém que esse tempo foi ótimo para ver que ela precisva voltar, para seu marido e sua filhinha. E assim todo esse sonho acabou, junto com o seu dinheiro. A moça volta para Los Angeles atrás da produtora, ela quer ganhar mais dinheiro. Porém a produtora fechou e o senhor elegante empresário voltou para o Brasil. Com malas e muita vivência ela retorna para seu país. Precisa começar do zero, sente-se perdida, volta a trabalhar na balada que antes trabalhará, mas o dinheiro já não é suficiente. Procura outras coisas: garçonete, vendedora e babá. Trabalha muito para ganhar dois mil reais por mês. Dois mil para morar em um quarto. O vencimento da clínica da mãe está para vencer e ela não quer mais que a mãe saia da clínica, tem medo da mãe de volta ao mundo. Pensamentos intercalam-se em possibilidades, onde sua única experiência concreta é atriz de filme adulto. Sem dar vazão aos pensamentos críticos, ela pega a fita do filme que fez e vai atrás de uma produtora de filmes adultos famosa em São Paulo. Ela sabe que será aceita, afinal fez um filme internacional. Mas o medo do que seria para ela depois a deixava acuada. Chegou na porta, antes de tocar o interfone, tinha um rapaz fumando. Ela pede um cigarro e desabafa com ele que precisava ficar calma, ele pergunta rindo o que aconteceu e ela decide contar para ele. O rapaz a surpreende falando "contratada" e fala que é diretor e produtor. O rapaz nem ao menos viu a sua fita, foi ver depois de uns meses. Uns meses depois de parceria no trabalho, ele conta-lhe que o que fez a contratar sem ao menos ver o seu desempenho nos filmes, tinha sido o nervosismo. Uma menina com carinha de medo seria ótimo para cenas que estimularião o público. No entando, o que efetivamente fez-lhe confiar no trabalho da moça ao longo dos trabalhos, era que a mesma não era atriz, então dava o texto sem nenhuma intenção, em um modo frio, como se não quisesse causar nada pelo dito. Mas seu corpo fala por si mesma. O desdém é um fetiche para o sexo. Assim, o produtor e a moça tornaram-se amigos, ele a entendia, quando decidiu estudar cinema não pensou que acabaria como diretor de filmes pornos. Ao ganhar dinheiro, acabou tirando os pudores e se permitindo a uma vida não planejada. As vezes eles transavam, as vezes só conversavam e com o tempo só compartilhavam da compania um do outro, nos sets de filmagens, iam jantar juntos, beber juntos, e ganhar dinheiro juntos; esse era o vínculo que mantinham. A moça conheceu muita gente, fez seu nome e mantinha uma família durante as gravações.
A vida me levou para onde estou. Não fui atrás de nada, sou filha de Yemanjá e deixe-me levar por um mar. Esse mar teve tempestades, ressacas e dias tranquilos. Desde menina quis ganhar dinheiro para ajudar minha mãe e ter minha liberdade. E hoje vivo exatamente essa realidade. Falo para o Ivan que não escolhemos a vida, ela nos escolhe.
Quando voltei dos Estados Unidos me senti perdida, não queria olhar para as pessoas nas ruas, eu não sabia o motivo mas de uma forma elas me irritavam. Talvez a felicidades delas, ou os sorrisos simpaticamente falsos. Comecei a usar muito preto e camiseta de bandas que representavam para mim o que eu queria dizer naquele meu não-sorriso. As pessoas pararam de sorrir para mim nas ruas, aí comecei a sentir-me a vontade diante delas. As roupas pretas me apagavam e assim que eu podia respirar tranquila. Tinha que esperar muito tempo no set de filmagem para gravar e um dia ví o filho de um dos produtores jogando em uma salinha ao lado, um jogo de video-game. Ele pediu para jogar comigo e a partir daquele dia pedi que sempre tivesse um video-game para mim no set para eu jogar antes de entrar no set. Passou a ser a melhor hora do meu dia, jogar o jogo, era o mesmo prazer do sexo, não pensava em nada naquele momento, só na fase que eu tinha que passar. Assim comprei um Nitendo e completei um ciclo o qual vem sendo minha realizada vida.

Sou feliz.

Júlia M.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Carta de uma atriz para sua Persona




Me sinto assustada, tenho medo; recuo. Algo me prende. Eu sei que esse algo, pode me soltar e me fazer saltar e voar para aqueles lugares que em meu sonho aparecem ser tão altos e tão próximos. Sinto que tenho tudo, e que é muito simples, mas meu elo com minhas aspirações me fazem parecer tudo dificultado. Irei silenciar-me e sentarei no pé de uma montanha e respirarei profundamente agradecendo a mim mesma, por viver o meu sonho. Sentirei meu corpo leve e desfrutarei de momentos...é tão simples. Tão prazeroso, e ao mesmo tempo tão comprometedor. Sinto que cada persona que se renova em mim, ela vem com mais pesar, mais responsabilidade, mais densidade em minha vida, e eu sei que isso atrapalha o meu caminhar sereno. Tenho consciência, mas cada vez mais a mais madura e comprometida mulher em mim floresce. Meu encontro com elas, está cada vez mais selado em minhas escritas. Reorganizo-as com minhas palavras pensadas e ditas pelas pontas dos meus dedos. Esse momento, é tao lindo, tão profundo. Nosso encontro! Sinto ela, sinto ela vir, sinto minha mente e meus problema se distanciarem e ficarem pequenos. E esse momento chega a ser tão único. Sinto-me sentada na frente dela e ela sorri para mim. Consigo enxergar ela agora, tão linda, tão serena, tão mulher e ao mesmo tempo um cristal, que pode quebrar a qualquer momento. Agora sinto minhas lágrimas correrem e uma compaixão por ela, é evidente que ela exista, ela é real. Tão bom senti-lá em minhas lágrimas. Um vazio toma conta e uma falta de pensamento ocupa todo o ambiente ficando apenas a música que de alguma forma me liga a ela, quem canta é uma mulher com uma voz pertinente e ao mesmo tempo leve como uma folha caindo no chão. A melodia me lembra a voz dela, a minha voz, a melodia me lembra uma força que quero ter, como atriz e como ela, e como eu. Não existe ela e eu, somos a mesma, mas separas por uma circunstância. Tenho que me observar, colocando-me em terceira pessoa, ao meu ver, consigo enxerga-lá e me enxergar melhor.
Agora entro em um papo cabeça, um papo cabeça mais coração. Entendo o que ela está passando, mesmo ela não conseguindo enxergar. Sinto, com muita dor no coração, que estou passando pela mesma situação. Isso nos une, isso juntas as duas que estão em mim na mesma circunstância, mas aquela que está no papel, ainda, não tem procedência dos fatos, ao passo aquela que está em meu corpo sabe seu destino e me pergunto é o meu também? Hoje, estou mais leve para falar sobre isso, estou cansada de andar com a angústia da indecisão de ser amada. Nos apaixonamos, eu e ela eu, estamos no mesmo metro quadrado. Quero levar isso de alguma forma para a vivência dela/ minha, pois isso, assim como ela, é real.


obs: e ele não me escreve, não demonstra um carinho e parece indiferente em como meu dia procede. Ausência dele, a dúvida do sentimento correspondido, um pequeno rancor por gostar dele, por estar envolvida com ele. Uma quase graça, por ele ser tão distante do que sempre imaginei para mim e tão tudo o que eu imaginei para mim. Compartilho isso com Letícia, que ri de mim e me responde "entendo perfeitamente".

terça-feira, 30 de junho de 2015

Sinfonia agridoce da vida





Preciso ouvir alguns sons que identifiquem aonde está a dor em mim
Sem mudanças eu posso mudar,
Eu posso mudar,
Mas levarei você no olhar.

Você está comigo de alguma forma,
Há tantas pessoas que conhecemos ao longo de nossa vida,
Mas certas pessoas vieram para ficar,
E eu não vou mudar.

Você sabe!
Temos nosso segredo
e ele só pertence a mim e a você.
Every me
every you.


Lovers.



Para: My little brother.
De: M.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Uma história platônica






Um dia fiz teste de personalidade e no teste o resultado deu que eu seria "romântica". Dei risada por dentro, eu não sou o tipo de pessoa que poderia ser considerada romântica. Nunca escrevi uma carta de amor, nem fiz loucuras por alguém ou liguei de madrugada para dizer que amo, ou escrevi bilhetinhos amorosos e colei na geladeira. Não desenhava coração no caderno e escrevia o nome da pessoa no meio do coração. Definitivamente, não fui uma pessoa romântica. Filmes de romances não são os meus favoritos, casais velhinhos na rua não me emocionam, e não sei qual é a sensação de dizer a alguém "Te amo". Costumo, eu e minha geração, dizer que expressões de amor são o dialeto 'mimimi' no qual eu também não possuo em meu diploma, essa linguagem. Tenho um conceito que pessoas românticas vivem no mundo em função quem está do lado, respiram o ar da pessoa ao lado, se apoiam nela como se fosse sua única opção momentânea de vida. A bem da verdade, quando vejo pessoas assim tenho um certo tipo de nojo. Nojo seria uma mistura de asco com algo que seria enviável eu concordar.
Papo cabeça? Talvez nasci com papos cabeças, lembro de ser criança e de escutar a conversa dos meus pais e daquilo me causar tanto interesse a ponto de esquecer dos meus brinquedos. Lembro de quando descobri que meu avô estava doente, meus primos brincavam no meio daquela notícia, quando meus pais e meus tios entraram com meu vô, não consegui mais brincar. Me escondi para ouvir o que estava acontecendo. Medo? preocupação? Não! Era curiosidade por um mundo onde as crianças não tinham permissão de entrar.
Quando minha mãe contou que meu pai também estava com a mesma doença, da qual meu avô morreu, não consegui chorar, não sentia vontade na verdade. Compreendia que era necessário que meu pai passasse pelo que meu vô passou, mesmo desconhecendo o motivo. Sentia isso, lá no fundo do meu coração. Então resolvi eliminar o que me deixaria sofrer ao vê-lo partir aos poucos (sim! eu sabia que ele ia morrer, todos nós vamos, mas a passagem dele estava mais próxima). Sentia que precisava me desligar dele, para nossa despedida ser menos difícil para ambos. Nossos passeios familiares passaram a ser Hospitais, eu ia mas ao mesmo tempo não estava lá. Não abraçava mais meu pai, não perguntava como ele estava e nem contava sobre minhas coisas. Ele pode ter sentido essa distância entre nós que a doença dele trouxe, mas na época começou a piorar tanto que já não falava mais, então não pedia para me ter por perto. Foi uma fase bem confusa e estranha até ele ir de vez. Não via a hora de ele ir, aquele cheiro de hospital tirava meu oxigênio.
Depois de ler tudo isso, você imagina que eu e meu pai éramos quase estranho um para o outro né? A verdade é que fomos nos tornando estranhos cada passo que a doença dele avançava, e acho que meu pai entendeu e preferiu assim também. Ele jamais teria coragem de se despedir de mim. Como falar do meu pai? como falar da pessoa que mais amei em toda minha vida? Da única pessoa que confiei na vida? Sou grata pela minha atitude de ter ausentado ele da minha vida até não vê-lo mais. Porque a lembrança que tenho dele, diferente da minha mãe que sempre lembra que apesar de lindo ele estava muito debilitado, para mim as cenas que lembro são quando ele fazia sucrilhos com leite antes de me levar na escola. Dele ouvindo música comigo no carro, ele deitado comigo no jardim me dando aula de astrologia, dele me levando para conhecer onde ele tocava com a banda antes dele começar a produzir música, dele tocando violão para mim, dele brincando de boneca comigo deitado na cama, dele me contando história de terror, deu olhando para ele e pensando 'como ele é bonito! por que eu tinha que nascer como filha dele?'. Certamente, jamais conhecerei um homem como ele. Acho que éramos almas-gêmeas, ele é o que eu sempre quis. E claro que o Céu exigia a presença dele lá.
Minha jornada com ele durou apenas até meus 11 anos. Quando ele foi embora eu estava com 12 anos e dois meses. Nunca mais o vi desde então. Fecho os olhos e a recordação que eu tenho é do seu sorriso, é tão nítida a imagem dele, penso que quase é verdade e ele está olhando para mim e rindo.
Escrevi que a pessoa que mais amei na vida foi ele, mas infelizmente não foi. Ele é a pessoa que deveria ocupar 100% o meu coração. Mas agora vou explicar o resultado do meu teste de personalidade "romântica". Sempre amei ler, as histórias conseguem me levar para lugares que fisicamente eu não iria de jeito nenhum. Gosto de um mundo inalcançável, um lugar inacessível. Amo me aventurar por lugares que nunca estive. Por isso li todas as Sagas fictícias, e todos os personagens desconhecidos humanamente me inspiram. Em uma das minhas muitas viagens pela mitologia grega, conheci a "República de Platão". Não só conheci como me vi naquela caverna. Sou eu! Entendi o que aqueles homens criavam naquelas sombras. Afinal as sombras são os lugares que não chegaríamos de nenhuma forma, nem de avião, navio ou foguete. Elas encontram-se dentro de nós mesmos. Alimentei com minhas leituras inocentes de histórias, o que seria uma realidade quase física. Amor platônico me enfeitiçou! Me envenenou? talvez. Veneno ou não, esse tipo de amor está em minhas artérias que levam ao coração. Tive muitas amores platônicos em meus 16 anos e meio de vida. Caras que amei, que somente os via pelos seriados na Tv, personagens de literatura que vinham me visitar de noite. Cantores que compunham aquela música para mim e um amor na escola que não cheguei a ouvir a voz dele, mas que até hoje habita meu coração. Mas teve um, considerado o mais reforçado Amor Platônico da minha vida. Alimentei essa sombra há 16 anos. Hoje não alimento mais, pois ela já criou vida própria. Como essa sombra surgiu pela primeira vez?
Fechos os olhos (sempre procuro fechar os olhos para enxergar o que está dentro de mim), e quase sinto o cheiro do seu leite, seu colo aconchegante, seu cabelo encostando na minha cabeça. Me fazia dormir e eu ficava quietinha olhando para ela. Foi amor a primeira vista. A primeira pessoa que vi na vida logo que nasci foi ela. Depois quando crescia gostava de olhar a figura da Vênus, parecia tão ela. Quando ela me dava banho, sentia a mão dela nos meus cabelos e queria que aquilo durasse para sempre. Toda sexta-feira eu ficava no quarto dela, vendo ela fazer a maquiagem com uma latinha de cerveja na mão ou na comoda. Deixava meus cabelos crescerem para serem iguais os dela. Mas sempre fomos tão diferentes. Com quatro anos, minha avó me contou, que me levaram em um médium espirita porque eu chorava demais para dormir. Me recordo do meu quarto e não conseguir dormir. Eu queria ela do lado. Ela falou que me criou para o mundo e que eramos amigas. Mas agora vejo o quanto eu queria ela como mãe. Sonhava com ela, em meus sonhos ela ainda me carregava no colo e me colocava para dormir, mas também dormia ao meu lado. Quando eu abria os olhos ela estava ainda lá, olhando para mim, com os olhos sorrindo. Então, eu acordava de verdade e ela não estava lá. Nunca esteve. Onde ela estava? Por onde ela está? Durante a minha infância chorava a procura dela, era uma criança chorona e triste, carregava um ursinho para cima e para baixo e quando as pessoas me perguntavam o que ursinho fazia de especial eu falava "ele têm orelhas grandes e os olhos tristes". As vezes eu fazia birra para não ir para escola, só para ela me carregar na escola e eu abraça-la. Sentir o seu cheiro era tão bom, tão confortante, tão ela. Mas logo vinham as broncas, as palmadas e os castigos. Ficar no quarto sozinha trancada era o castigo mais dolorido e mais confortante com o passar do tempo. Comecei a acostumar com aquela cama vazia. Fui mudando minha forma de chamar por ela, não chorava mais e nem fazia birra, inventava dor de barriga para ir não ir para escola, sentia inveja quando via as mães levando seus filhos e os beijando. Não queria ver isso nunca mais! Inventei que na escola me maltratavam e os meus colegas não gostavam de mim, e então as coisas só pioraram. Ela descobriu que era mentira minha e me obrigou a ir para a escola e ainda fiquei com fama de mentirosas para os professores e de estranha para as crianças. Isso me deixou muito triste, mas não foi pior do que ver o desprezo dela pelo meu problema. Que na minha cabeça era tão real quanto fisicamente. Depois que papai ficou doente, minha amiga passou a ser colega, deixou de usar maquiagem e de tomar sua cerveja na sexta. Seu rosto ganhou uma outra cor e sua voz uma entonação imponente. Era mais difícil alcança-lá! Era quase impossível! Meu platônico amor chorava dentro de mim, quando isso mudará? Depois que papai foi embora, pensei que seria a oportunidade, seríamos só eu e ela. Iríamos ficar sozinhas pela primeira vez, isso me animava, mesmo não tendo mais meu super pai ao lado. Sentia que minha missão na terra era faze-lá me amar. Com o tempo a ausência de papai em casa só afastou mais ela da minha vida. Ela sumiu de vez, me deixava na escola, no inglês e ia trabalhar. Quando ela voltava ia no quarto chorar. Chorava tanto, eu escutava. Queria poder ter abraçado ela e ter falado "Eu to aqui! Eu! Eu sou a pessoa que mais te ama na vida" mas não tinha intimidade com ela. Não saberia como abraça-lá, não saberia como dizer. Nunca fui de palavras, sou péssima. Aprendi a falar tarde, porque tinha preguiça de falar, meu pai contava. Mas sou boa com o papel e a caneta na mão, por isso para compensar aprendi a escrever com 5 anos. Um dia a diretora da escola chamou meus pais "Estou preocupada com essa menina! Ela não fala, nas chamadas orais fala que não sabe, mas nas provas suas notas são as melhores da classe" e a escola sugeriu uma fono. A vida seria melhor se fossemos que nem desenho em quadrinhos e tivéssemos nossos próprios balõezinhos a preencher. Mas a vida não tem balões.
Hoje com 16 anos e meio, me sinto completamente distante do meu amor platônico. Recordando penso que deveria ter tentado, mas não sei como. Não conheço ela, não saberia que assunto puxar ou o que conversar. Com a partida do meu pai, nos enterramos em nossos quartos e em nossas mentes e nos espiávamos sem ser notadas uma pela a outra. Ou será que só eu a espionava? A verdade é que a espiono desde que nasci. Desde que abri os olhos pela primeira vez. Admiro ela e a contemplo como a Vênus com Sandro Botticelli. Saber que nunca vou tê-lá é uma dor que não poderei suportar. Saber que se eu sair da Caverna, posso descobrir que ela não é Minha Vênus é uma dor que não cabe no suporte do meu coração. Sinto que preciso ir para onde eu encontre alguém que me ame como eu amo ela. E eu sei onde essa pessoa está.
Só há uma pessoa que poderia me mostrar que vale apena continuar, se essa pessoa (é um sonho acontecer mas pode ser possível) aparecer será minha última esperança. Será como uma água no deserto com uma mensagem " No final, tudo valeu apena". Caso não, venho por meio desta dizer que estou indo viajar para um lugar onde eu encontre Amor, mas desta vez não mais com Platão.


Sua Alice.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Encontro de Atriz com o Personagem

Hoje eu me despeço!

vou fazer algo que há um tempo tenho pensado como seria se eu fizesse. Meus pensamentos são egoístas e penso na repercussão desse meu ato. Olho para um lugar alto e me vem uma pontadinha leve de vontade. Estou perto dos trilhos do metrô e me vem na cabeça uma cena que poderia ser possível em um impulso a mais de atitude. Mas só tenha uma chance e isso faz com que meu pé não saia do chão. Essa vontade me vem acompanhando a alguns meses. Confesso que veio com o passar de "nãos" levados, com os objetivos não alcançados e com as expectativas frustradas. Quando algo me deixa triste, a ponto de passar quase como uma agulha em meu coração, vou na janela. Moro no décima quintar andar e me vejo escrevendo uma carta de despedida. Amanhã eu tenho a oportunidade! Graças a mais uma vida que dou margem à interpretação eu me simulo e visito esse lugar por segundos desejados.
Com outro corpo, outra família, outra idade eu me atiro com a desculpa de não ser eu a cometer o ato delito. Mas sou! Apenas peço emprestado outro nome, que poderia ser o meu, ao mesmo tempo me pertence tanto quanto meu sangue.
O que deixo são exatamente, como Eu Alice deixará, Amores Platônicos.


Me escondo, nomeando-os personagens, todos pertencem aos meus muitos nomes homônimos. Sou eu. Sou Alice. Me despeço hoje e me tranquilo porque a Gabriella terá outra chance. E ela?



Quero ela comigo para sempre.


G.

O voo de Ismália






"Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar..

E, no desvario seu
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."


Alphonsus Guimarães


Sua Alice,

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Carta para Minha Vênus






Com meus pés no ar e a cabeça no chão
Experimentei este truque e girei, (sim) sim
Minha cabeça entrou em colapso; percebo que eu não tinha nada dentro
E me pergunto
"Cadê minha alma? "

Ela tá, onde Você não consegue enxergar.
Lá longe na imensidão da água em um oceano,
nadando.
Eu me vejo e a vejo;
Sim! ela estava nadando.
Onde os animais ficam escondidos atrás das pedras
protegidos pela Mãe Cadeia Alimentar.
Exceto os peixinhos.

Um dia eu desperto e entendo. Se no dia seguinte eu não estiver mais nesse quarto, as luzes vão continuar Brilhando.
O sol esquentando,
a brisa refrescando,
a aguá limpando,
as pessoas andando,
o relógio titubeando,
o farol piscando,
a buzina tocando,
os mercados funcionando,
a porta encostando
e nela Você
Entrando
Chegando
Sentando
se Arrumando e
Respirando.
E Amando?
Você sentirá falta do Amando?



Vivo dentro, em um oceano de peixinhos;


Peixinhos nadam sozinhos.

Sua Alice.


Remente: Sua.






terça-feira, 26 de maio de 2015

5 da manhã







Com uma dose na mão, eu estou parada do outro lado te olhando.
Você me provoca, e me desdém
Não interessa, estamos fisgados e separados por um ar que me consolando
estaciona no vai-vem
de uma manhã de domingo; cantando
i'm going your way.

Ontem a noite foi a mesma dos dias anteriores. E assim será, mas todas as vezes que ela começa a se despedir com a luz, você aparece.
Vivo em um mundo que me distrai com as ondas emitidas pelo satélite.

Entretanto, no entanto,
tentando, em um ar de pranto fazer meu desejo se concretizar
fazer aquele beijo não falhar.
Eu estou usando aquele preto
do sábado a noite,
com o perfume
daquela viagem,
dentro da bolsa
coberta com swarovski
há também um espelho nela,
com moldura padronizada
estilizada,
com as inicias
da goumert
conveniência da esquina
mais idolatrada,
a qual se encontra
uma moça sentada,
mas essa por sua vez esta na calçada.
E o que ela tem?
Nada.


H.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Antes da palavra, O teatro.





"Constato que o mundo tem fome e que não se preocupa com a cultura e que é de um modo artificial que se pretende dirigir para a cultura pensamentos voltados apenas para a fome. O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor. Mas extrair daquilo que se chama Cultura, ideias cuja força viva é idêntica a da fome. Acima de tudo precisamos viver e acreditar no que nos faz viver e em que alguma coisa nos faz viver. E aquilo que sai do interior misteriosos de nós mesmo, não deve perpetuamente voltar sobre nós mesmos, numa preocupação grosseiramente digestiva. Quero dizer, que se todos nos importamos com comer imediatamente, importamo-nos ainda não mais desperdiçar apenas na preocupação de comer imediatamente nossa simples força de ter fome. Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as ideias, os signos que são a representação dessas coisas. O que falta certamente, não são sistemas de pensamento, sua quantidade e suas contradições caracterizam nossa velha cultura. Mas quando foi que a vida, a nossa vida foi afetada por esses sistemas? Não diria que os sistemas filosóficos sejam coisas para se aplicar direta e imediatamente, mas de duas uma, ou esses sistemas estão em nós e estamos impregnados por eles a ponte de viver deles e então que importam os livros? Ou não estamos impregnados por eles e nesse caso não merecíamos fazer viver. De todo modo, o que importa que desapareçam? É preciso insistir na ideia de cultura em ação e que se torna em nós como um que um novo órgão uma especie de segundo espirito e a civilização é cultura que se aplica e que rege até nossas ações mais sutis, o espirito presente nas coisas"


Antonin Artaud

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Como uma boneca pintada de azul


Você sabe o que é o amor?



Uma bala de porra
Perdi os meus sonhos por um
mundo estranho
Na imensidão de um azul
Você
Passou sua doença para mim, porém ainda
vou ser feliz em meus sonhos
Só em sonhos
Em belos sonhos
em um sonho...


Te amo

Me bata?

Como a imensidão; da possibilidade

Onde há azul,

O amor
Nasce das possibilidades

No final do filme, nem todos os mistérios são revelados. Jeffrey mata Frank, eliminando a escuridão. O caminho é aberto para os pássaros, e a vida em Lumberton volta a ser bela.


Voa passarinho!

Lado B

AMERICAN WAY PF LIFE

David Lynch revela o lado mais podre de Lumberton, a típica cidade norte-americana que, nas primeiras cenas do filme, aparentava ser o lugar perfeito para viver.

O fetiche pelo Azul = TRISTEZA
LADO B= FELICIDADE

inconsciente surrealista
LADO B= CONSCIENTE NATURALISTA

A perversão
LADO B = BONDADE

Gênero Suspense
LADO B = ROMANCE

Dorothy Cantora
LADO B = MÃE E ESPOSA

O filme está no Ilogismo (Falta de lógica, incoerência.
O ilogismo está presente no Romantismo, onde coexiste a oscilação entre dois polos opostos: alegria e melancolia, entusiasmo e tristeza. No entanto, é no Simbolismo que encontramos mais ilogismos, pois sentem e representam a vida como um mistério, vago e impreciso)
Em tais lugares, somos confrontados com os níveis mais profundos de nossos desejos, os quais não estamos prontos para admitir nem para nós mesmos.
Vestido de veludo azul é o elemento central do ato.
Veludo Azul guia-nos em uma incômoda jornada pelo lado obscuro e indissociável da sexualidade humana, seja ela posta em ato ou recalcada: mundo externo ou mundo interno, como Sandy muito bem o coloca, trata-se de um mundo estranho.