quinta-feira, 5 de novembro de 2015

It's me Mario








Era uma vez uma menina, que via sempre os pais brigarem. Até que um dia viu o pai ir embora e nunca mais voltar. A mãe fumava o dia inteiro e fazia outras coisas das quais a pequena menina não entendia. Um dia a mãe lhe contou que seu pai tinha ido embora, porque tinha uma outra família e que precisava retornar para ela. A menina não chorou, para ela a mãe era o sufiente, apesar de sempre viver cambaleando pela casa. A menina cresce e se torna uma bonita moça, começa a sair com as amigas sem ter hora para voltar. Logo de mocinha se intensifica na vida noturna. Até um amigo charme-lhe para trabalhar onde a mesma se divertia. Ela começa a ganhar um dinheiro e passar a ser a "hostel" das festas. Assim, a mocinha passa a ganhar o seu dinheiro e cada vez mais sua liberdade. A mãe não barra, diz que a criou para o mundo. O mundo acaba acolhendo a mocinha que agora é uma pequena mulher. É convidada a se agenciar como modelo fotográfica e passa a aumentar sua renda com fotos, eventos e showrooms. Chega em casa todos os dia muito tarde, ou no amanhecer do dia, seu dinheiro é gasto com roupas, cigarros e antidepressivos. Em uma dessas chegadas em casa, ela encontra sua mãe desmaiada no chão da sala. Pela primeira vez, ela chora como uma menina, por mais insuportável que sua mãe era, ela era única pessoa que ela tinha na vida para ocupar seu coração. Os paqueras e flertes não supriam o que a mãe lhe causava. Assim, levou a mãe para o pronto-socorro, onde lhe contaram que sua mãe precisava ficar enternada um tempo pois poderia ter uma dependência com os remédios/drogas. Voltou para a casa sozinha e sozinha ficou durante quatro meses, vendo sua mãe as vezes de sábado, no hospital psiquiatrico no qual ela estava. Mas um dia a estrela dela brilhou e um senhor muito elegante, que estava analizando as roupas nas modelos no showroom, lhe ofereceu um trabalho em Las Vegas. Ela trabalharia em um showroom na loja que ele tinha lá e não pagaria a passagem e nem hospedagem, moraria com outras modelos e ganharia em dólar. Não conseguiu colocar nenhum obstáculo e assim partiu com a intenção de ganhar mais dinheiro para colocar a mãe em um clínica em melhores condições. Logo no primeiro dia, foram buscar ela no aerporto e a levaram para o escritório para assinar o contrato. No escritório o mesmo senhor apareceu, contando-lhe que estava como principal empresário em um filme adulto e gostaria de contratá-la como atriz principal. No começo ela fez que não entendeu o fato de ser "filme adulto" mas logo quando percebeu, berrou que a inganaram que iria voltar imediatamente para o Brasil, mas o senhor mostrou-lhe o cachê que receberia, explicou que o filme seria veiculado só nos países da Ásia e parte ocidental da Europa, não seria comerciado nem para os Estados Unidos e nem para a America Latina. Quando olhou o valor do cachê, se viu com aquele dinheiro, era um valor que pagaria anos de clínica para sua mãe e para sua própria sobrevivência, poderia conhecer o mundo todo, o mundo o qual a mãe lhe criou para pertencer a moça. Diante de todos os pensamentos, pediu um dia para pensar. Assim foi para as ruas tão desejadas newyorkinas. "Aqui é o meu lugar, o mundo é o meu lugar, eu quero tudo isso!" Dizia ela para si mesma. E com essa decisão refletiu "transo com tantos caras que as vezes não pagam nem uma cerveja para mim" "não estou fazendo nada demais, apenas transando com mais um, na frente de uma câmera" "lembro quando o meu primeiro namorado filmou a gente transando e depois mostrou o vídeo quase para escola inteira". E com o último pensamento, voltou o mais rápido possível para o escritório, para não se arrepender e assinou. No seu primeiro dia de filmagem, estava com o coração acelerado e pela primeira vez rezou pedindo proteção para um deus no qual nunca tinha até agora acreditado. Depois de uns cinco minutos no set de flmagem, ela já estava em casa e se forçou a esquecer a câmera, lembrava das noites e dos caras que já passaram pela sua vida. Quando terminou, sentiu um alívio com misto de orgulho, sabia que tinha feito um bom trabalho. Durante o sexo, era um dos momentos dos quais ela sentia-se vivendo sem pensar, vivendo pelo prazer e pelo extase da vida. Voltou para o Brasil, colocou a mãe em uma das melhores clínicas de reabilitação onde descobriu que sua mãe não era dependente quimica e sim alcoolatra. No mesmo mês, foi para a Europa, no primeiro pais logo conheceu uma Norueguesa em um hostel. Se apaixonou, amou, se apegou e viveu um sentimento que a tirou de toda sua certeza levando-a ser tão leve como uma folha que cai. Realizou o sonho de viajar junto com sua enamorada. Foi para muitos paises e muitos lugares, viveu intensamente como não se tivesse o amanhã. Um dia sua primeira paixão revela que é casada e que está sumida de casa, porque precisava de um tempo para pensar, porém que esse tempo foi ótimo para ver que ela precisva voltar, para seu marido e sua filhinha. E assim todo esse sonho acabou, junto com o seu dinheiro. A moça volta para Los Angeles atrás da produtora, ela quer ganhar mais dinheiro. Porém a produtora fechou e o senhor elegante empresário voltou para o Brasil. Com malas e muita vivência ela retorna para seu país. Precisa começar do zero, sente-se perdida, volta a trabalhar na balada que antes trabalhará, mas o dinheiro já não é suficiente. Procura outras coisas: garçonete, vendedora e babá. Trabalha muito para ganhar dois mil reais por mês. Dois mil para morar em um quarto. O vencimento da clínica da mãe está para vencer e ela não quer mais que a mãe saia da clínica, tem medo da mãe de volta ao mundo. Pensamentos intercalam-se em possibilidades, onde sua única experiência concreta é atriz de filme adulto. Sem dar vazão aos pensamentos críticos, ela pega a fita do filme que fez e vai atrás de uma produtora de filmes adultos famosa em São Paulo. Ela sabe que será aceita, afinal fez um filme internacional. Mas o medo do que seria para ela depois a deixava acuada. Chegou na porta, antes de tocar o interfone, tinha um rapaz fumando. Ela pede um cigarro e desabafa com ele que precisava ficar calma, ele pergunta rindo o que aconteceu e ela decide contar para ele. O rapaz a surpreende falando "contratada" e fala que é diretor e produtor. O rapaz nem ao menos viu a sua fita, foi ver depois de uns meses. Uns meses depois de parceria no trabalho, ele conta-lhe que o que fez a contratar sem ao menos ver o seu desempenho nos filmes, tinha sido o nervosismo. Uma menina com carinha de medo seria ótimo para cenas que estimularião o público. No entando, o que efetivamente fez-lhe confiar no trabalho da moça ao longo dos trabalhos, era que a mesma não era atriz, então dava o texto sem nenhuma intenção, em um modo frio, como se não quisesse causar nada pelo dito. Mas seu corpo fala por si mesma. O desdém é um fetiche para o sexo. Assim, o produtor e a moça tornaram-se amigos, ele a entendia, quando decidiu estudar cinema não pensou que acabaria como diretor de filmes pornos. Ao ganhar dinheiro, acabou tirando os pudores e se permitindo a uma vida não planejada. As vezes eles transavam, as vezes só conversavam e com o tempo só compartilhavam da compania um do outro, nos sets de filmagens, iam jantar juntos, beber juntos, e ganhar dinheiro juntos; esse era o vínculo que mantinham. A moça conheceu muita gente, fez seu nome e mantinha uma família durante as gravações.
A vida me levou para onde estou. Não fui atrás de nada, sou filha de Yemanjá e deixe-me levar por um mar. Esse mar teve tempestades, ressacas e dias tranquilos. Desde menina quis ganhar dinheiro para ajudar minha mãe e ter minha liberdade. E hoje vivo exatamente essa realidade. Falo para o Ivan que não escolhemos a vida, ela nos escolhe.
Quando voltei dos Estados Unidos me senti perdida, não queria olhar para as pessoas nas ruas, eu não sabia o motivo mas de uma forma elas me irritavam. Talvez a felicidades delas, ou os sorrisos simpaticamente falsos. Comecei a usar muito preto e camiseta de bandas que representavam para mim o que eu queria dizer naquele meu não-sorriso. As pessoas pararam de sorrir para mim nas ruas, aí comecei a sentir-me a vontade diante delas. As roupas pretas me apagavam e assim que eu podia respirar tranquila. Tinha que esperar muito tempo no set de filmagem para gravar e um dia ví o filho de um dos produtores jogando em uma salinha ao lado, um jogo de video-game. Ele pediu para jogar comigo e a partir daquele dia pedi que sempre tivesse um video-game para mim no set para eu jogar antes de entrar no set. Passou a ser a melhor hora do meu dia, jogar o jogo, era o mesmo prazer do sexo, não pensava em nada naquele momento, só na fase que eu tinha que passar. Assim comprei um Nitendo e completei um ciclo o qual vem sendo minha realizada vida.

Sou feliz.

Júlia M.