quarta-feira, 17 de junho de 2020

No suspirar; Gaia




Amada mãe Terra,
Que nos alimenta e nos reintegra.
Se eu e meus antepassados, ofendemos tua família e teus antepassados,
Peço teu perdão.
Nos limpe, nos purifique
dessa dor, tormenta que produz o breu.
Da incerteza, do não estar, não pertencer,
não ser e não obedecer a ti,
amada mãe Terra.

Nós que descendemos dos mesmos ancestrais,
Da lua, sol, vento e mar.
Nos ensina a amar, nos ensina a tolerar.
Em casa repousamos, em casa esperamos
o Devir nos guiar.

Protegei nos, Amada mãe Terra.
Ilumina tua medicina, tuas águas, tuas raízes, teus homens
que derramam todo dia um pouco do suor, seja do corpo ou do pensar.
Águas salgadas produzidas pela tua natureza.
Ela que nos cria, ela que nos ensina e ela que nos modifica.
Assim encontro Gaia que suspira: "Deixe minha filha, deixe a terra se curar..."

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Thelma e

Nelson,





Te escrevo tentando uma comunicação, um jeito de saber onde você está e como você está. Aquele dia não me sai da cabeça, seu jeito deitado no sofá. Pergunta que não quer me calar "você estaria dormindo? Estaria vendo TV? O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO?"...QUERIA tanto tanto saber o que aquele dia se passou. Mas ainda lembro do seu cheiro, sua voz quando me chamava com carinho "teté?" como eu odiava quando você me chamava assim. Achava que era muito mais atraente você me chamando pelo nome inteiro. Apesar de saber que algo bom não viria.
Quando eu tinha dezesseis anos, papai era muito controlador, não me dava espaço e mau me ouvia. Logo que te conheci me perdi na sua segurança de falar, seu jeito engraçado de como você encantava a todos. Danilo não poderia ser diferente, Danilo é você inteirinho. Tenho medo do jeito ousado dele um dia deixar passar algo despercebido e acabar com sua vida. Não estou te culpando, porque não posso culpar, você já não está mais aqui e como eu queria te culpar. Gritar, xingar, berrar e controlar. Você sempre dizia que eu vivia para controlar tudo ao redor, que era dessas cancerianas que não se cansava de amar, ninar e mandar.
Nasci no Meier, em 1970 no meio de tantas informações culturais, não gostava muito de boate, era mais de casa mas sempre sonhei em trabalhar. Quando mamãe abriu o restaurante, tinha dez anos e queria no caixa ficar. Sonhava em papai rico, mamãe com roupas bonitas como essas senhoras de Copacabana. Sonhávamos em abrir restaurantes pela Zona Norte um dia quem sabe teríamos na zona sul para os bacana. Mas o gênio de papai era difícil e os funcionários não queriam ficar. Foi tanta gente que trabalho naquele lugar que não conseguimos uma equipe fixar. Na época do Collor, seguramos as pontas pra não fechar, era o sonho da família e não iriamos desanimar. Pra não fechar, papai pediu um empréstimo que acabou por nos endividar. Nesse meio tempo veio você, a única coisa que eu queria. Meu coração já me dizia, que com você eu queria casar. Você meu único namorado, meu único amor, meu terror. Você tinha aquele fusquinha, herança do seu querido vô Zequinha. Você amava contar sobre ele e muitas vezes sentia sua vontade de chorar. Lembro sua vontade de contar sobre tudo da sua vida, e muitas vezes só som emita porque eu não queria escutar. Minha cabeça estava na minha família, meu pai com câncer e minha mãe no restaurante. Eu tinha que ajuda! Você muitas vezes falava pra vender, você não compreendia, porque pra você tudo era passageiro, tudo virava água como você mesmo dizia e é onde hoje onde você está?
Seu jeito leve de viver, quase levou nosso filho embora, e disso eu nunca vou esquecer. Eu te amo do jeito seu ousado, engraçado, descontraído, despreocupado, teimoso, debochado e amado. Saber que eu nunca mais vou te ver, me faz escrever essa carta. Danilo é tudo pra mim, amor sem fim. Mas nunca mais quero um homem amar. Você foi navegar? Está no mar? Lembro a primeira vez que te vi de uniforme, meu coração estava como um cavalo a galope, era um sonho com você eu estar. Você subindo de cargo na marinha, e logo o nosso bebê vinha. Cuidei dos meus pais até o último dia de suas vidas, cuida da sua mãe doente, cuidei do nosso restaurante,cuidei da sua carreira na marinha cuidei de nosso filho e não cuidei de como a vida poderia me superar. Parece que a vida queria me mostrar que é mais forte que eu, e me tirou você para algo me mostrar. Não me entenda mau, não estou de mau com a vida, só queria hoje do seu lado estar.