quinta-feira, 21 de maio de 2015

Antes da palavra, O teatro.





"Constato que o mundo tem fome e que não se preocupa com a cultura e que é de um modo artificial que se pretende dirigir para a cultura pensamentos voltados apenas para a fome. O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor. Mas extrair daquilo que se chama Cultura, ideias cuja força viva é idêntica a da fome. Acima de tudo precisamos viver e acreditar no que nos faz viver e em que alguma coisa nos faz viver. E aquilo que sai do interior misteriosos de nós mesmo, não deve perpetuamente voltar sobre nós mesmos, numa preocupação grosseiramente digestiva. Quero dizer, que se todos nos importamos com comer imediatamente, importamo-nos ainda não mais desperdiçar apenas na preocupação de comer imediatamente nossa simples força de ter fome. Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as ideias, os signos que são a representação dessas coisas. O que falta certamente, não são sistemas de pensamento, sua quantidade e suas contradições caracterizam nossa velha cultura. Mas quando foi que a vida, a nossa vida foi afetada por esses sistemas? Não diria que os sistemas filosóficos sejam coisas para se aplicar direta e imediatamente, mas de duas uma, ou esses sistemas estão em nós e estamos impregnados por eles a ponte de viver deles e então que importam os livros? Ou não estamos impregnados por eles e nesse caso não merecíamos fazer viver. De todo modo, o que importa que desapareçam? É preciso insistir na ideia de cultura em ação e que se torna em nós como um que um novo órgão uma especie de segundo espirito e a civilização é cultura que se aplica e que rege até nossas ações mais sutis, o espirito presente nas coisas"


Antonin Artaud

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